quinta-feira, 17 de maio de 2012

A visita cruel do tempo

Jennifer Egan
Intrínseca - 335 páginas

"...estou sempre feliz. É que às vezes eu esqueço." (página 11)

Imagine uma trama que se passa entre a década de 70 e um futuro próximo, permeia a vida de alguns personagens e é narrada por vozes distintas em lugares e tempos distintos.

O desafio de cada um dos 13 capítulos é descobrir sobre quem está se falando e...quando! Ora pode ser uma amiga de Bennie, um empresário do ramo musical, ora pode ser a filha de uma das protagonistas. Mas também pode ser um interlocutor neutro. 

Sasha é cleptomaníaca, mas trabalha para Bennie, que é casado com Sthepanie, a qual é irmã de Jules - um repórter de celebridades que comete um tremendo deslize. Ops, Bennie é casado com outra pessoa...mas em outro tempo. Ele tem um filho, quer dizer, mais tarde tem uma filha com a segunda mulher também.

La Doll é mãe de Lulu e já foi chefe de Sthephanie, mas sua vida muda após ser relações públicas de um tirano homicida.

Ficamos sabendo ainda de Jocelyn, Scotty, Bosco, Rhea, Lou, Charlie, Rolph, Rob, Kitty, Drew... a lista é extensa e, de certo modo, a vida de todos de entrelaçam em algum momento.

As perspectivas mudam, as coisas acontecem, os sonhos da juventude são atropelados pela realidade, a amizade de um grupo se dilui, a essência da vida muda...
São transformações pessoais, metamorfoses e grandes sacadas no meio de cada fragmento dos relatos da vida.

Imperdiível!

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Marina

Carlos Ruiz Zafón
Editora Objetiva - 189 páginas

"...cedo ou tarde, o oceano do tempo nos devolve as lembranças que enterramos nele." (página 8)

Óscar Drai é um garoto de 15 anos que vive num internato em Barcelona e adora dar suas escapulidas para perambular pela cidade.

Um dia, ele vai parar em frente a um casarão antigo e, intrigado com o lugar, decide ver se tem alguém morando lá.
Para sua surpresa, ele descobre que sim e é uma bela moradora, por sinal: Marina. A garota mora com seu pai, Gérman e tem um estilo de vida bem peculiar.

Óscar e Marina tornam-se amigos-quase-namorados e, de uma hora outra pra outra, se vêem envolvidos numa trama macabra e perigosa.

A trama tem suspense, humor, romance, ficção na dose certa e te prende do começo ao fim.

Pode parecer que se trata de mais um livro infanto-juvenil, mas ele vai além, pois tem uma sensibilidade ímpar, doce e maravilhosa.

Belíssimo!

" A beleza é um sopro contra o vento da realidade..." (página 45)

obs: esse autor escreveu também A sombra do vento, outra obra linda e marcante :)

terça-feira, 1 de maio de 2012

Sonetos do amor obscuro e divã do Tamarit

Federico García Lorca (1898-1936)
Coleção Folha - Literatura Ibero-Americana - 87 páginas

"Esta luz, este fogo que devora.
Esta paisagem gris que me rodeia.
Esta dor por uma só ideia.
Esta angústia de céu, mundo e hora."
(Chagas de Amor - página 19)

Ler poesia é ser transportado para um mundo paralelo, onde os sentimentos se impõem sobre a razão.

Ler a poesia lírica de García Lorca é um subir um degrauzinho acima desse mundo paralelo.

O amor é tratado em sua beleza, em sua dor (Do pranto), em sua amargura (Da raiz amarga), em sua intensidade (Chagas de amor), em sua doçura (Soneto gongórico em que o poeta manda seu amor a uma pomba).

São 32 poemas que devem ser lidos, apreciados, degustados.

Como bem disse Fabrício Corsaletti na apresentação da obra, "não sei se a arte pode mudar o mundo. Sei que diante da poesia de Lorca é preciso mudar de vida."

Preciso dizer mais?

O livro da areia

Jorge Luis Borges
Coleção Folha - Literatura Ibero-Americana - 103 páginas

"Como a areia, escoava o tempo..." (página 19)

Minha primeira experiência com Jorge Luis Borges não foi lá das melhores. Li Ficções e achei superconfuso. Mas, agora, a história foi outra: curti cada conto!

Sonhos, viagens, visitas de outros tempos e de outras eras, a busca pela "palavra", os mistérios da vida e da morte são os temas mais recorrentes.

"Os anos passam e tantas vezes contei a história, que não sei se a recordo de fato ou se só recordo as palavras com que a conto." (A noite dos dons)

Os fatos da vida, quando contados, tomam outro rumo? Será que tudo que nos acontece é fruto da realidade, ou as coisas fluem como num sonho, meio que sem pé nem cabeça mesmo?

"Para ver uma coisa, é preciso compreendê-la." (There are more things)

E quando não a compreendemos?

Então, podemos escrever...
"As proezas mais ilustres perdem o brilho se não forem cunhadas em palavras." (O espelho e a máscara)


Vale a pena a leitura!