segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Todos os fogos o fogo

Julio Cortázar (1914-1984)
BestBolso - 160 páginas

"... as mensagens que realmente importam estão, em dado momento, aquém de qualquer palavra." (página 127)

Ler os contos de Cortázar é um deleite pra alma.
Essa obra reúne 8 contos, cada um com sua particularidade e sensibilidade.

O primeiro - "A autoestrada do sul" - é o melhor: presos em um engarrafamento rumo à Paris, os motoristas aprendem a conviver uns com os outros por dias a fio.

"Sob cobertores sujos, com mãos de unhas crescidas, cheirando a fechado e a roupa suja, algum sinal de felicidade persistia aqui e ali." (página 29)

Esse conto, aliás, me fez lembrar de Saramago e suas tramas que exploram os limites de convivência entre os seres humanos.

Em "Senhorita Cora", um jovem luta pela vida em um hospital e conta com os cuidados da enfermeira Cora. No conto, os pensamentos dos personagens afloram de forma intercalada e sem aviso prévio. Você lê um pensamento e deduz de quem é pelo conteúdo da mensagem.

Os outros contos são: "A saúde dos doentes", "Reunião", "A ilha ao meio-dia", "Instruções a John Howell", "Todos os fogos o fogo" e "O outro céu".

Não vou detalhar as surpresas de cada um, leia e descubra os tesouros aos poucos.

Boa leitura!

sábado, 7 de dezembro de 2013

A Culpa é das Estrelas

John Green
Intrínseca - 286 páginas

"Meus pensamentos são estrelas que eu não consigo arrumar em constelações." (página 281)

Se o livro fica muito tempo na lista dos mais vendidos, começa a aquela coceirinha em mim pra ler. Graças a uma amiga, consegui este emprestado e li em dois tempos.

É uma história triste, já adianto. Muito triste mesmo: Hazel Grace é garota de 16 anos que tem câncer e participa de um grupo de apoio na igreja. Não por gosto, mas porque não vê outro meio de evitar. Sua doença ataca os pulmões e ela é obrigada a andar com um carrinho de oxigênio onde quer que vá.
Neste grupo de apoio ela conhece Isaac, um garoto com problemas de visão decorrentes do câncer, e Augustus (Gus), seu grande amor, que superou um câncer a custa de perder uma perna e, por isso, anda com a ajuda de uma prótese.

"Você me deu uma eternidade dentro dos nossos dias numerados." (pág. 235)

Hazel manteve a amizade apenas com uma garota, Kaitlyn. Ela gosta mesmo é de ler e reler um livro, cuja história termina no meio de uma frase e a deixa intrigada há tempos.

Gus gosta de jogar videogame com Isaac e, depois de conhecer o livro-paixão de Hazel, também fica intrigado com esse "final sem fim".

Então, ambos decidem viajar para Amsterdã para conhecer o autor do livro (Peter Van Houten) e descobrir o destino de cada personagem. A partir daí, a vida de ambos toma um rumo novo e o nó da garganta do leitor se transforma em choro (fica o alerta).

É uma história fofa, apesar de trágica, mas só estranhei o tom pessimista do livro todo: o câncer vem para destruir todos os sonhos e ponto final. Claro que esta é uma doença terrível, mas muitas pessoas são curadas também. Faço tratamento em uma clínica e vejo sempre crianças sadias indo abraçar seus antigos médicos, depois de serem curadas. E não são poucas, graças a Deus!

Além disso, estranhei o isolamento desses jovens de seus amigos. Eles, ao ficarem doentes, só se relacionam com os doentes.

Hazel ainda tenta explicar:
"A doença gera repulsa. Aprendi isso há muito tempo..." (pág. 39)
"...a evidência física da doença separa você das outras pessoas." (pág. 134)

Até entendo que o nível de interação com as pessoas não-doentes possa cair, mas acabar de vez é no mínimo estranho.

Bom, são impressões minhas, que já passei meses a fio doente, internada, fazendo tratamento, mas sem perder a fé, a alegria de viver e o contato com aqueles que sempre foram importantes para mim.

Agora, é esperar o filme e a choradeira que vem por aí.
Boa leitura!

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Memórias da casa dos mortos

Fiódor Dostoievski (1821-1881)
L&PM Pocket - 327 páginas

"...no exagero de toda a infelicidade há também um prazer." (página 80)

Alieksandr Pietróvitch foi encarcerado em uma prisão na Sibéria por ter assassinado a esposa por ciúmes. Como se entregou à Justiça, teve a pena amenizada: 10 anos de prisão em regime fechado.

A obra reflete as marcas que a prisão causou no autor, quando este ficou preso entre 1850 e 1854.

Pietróvitch conta do cotidiano da cadeia, das primeiras impressões que teve ao ser preso, dos tipos humanos que dividiam o mesmo espaço que ele, das dores e da forma de viver encarcerado.

Ele descreve com detalhes o trabalho forçado, o funcionamento do hospital militar, o tratamento desumano dos castigos com paus ou chicotes, o "comércio" ilegal entre os presos.

"[Para castigar alguém]... não precisava senão dar ao seu trabalho o caráter de uma inutilidade e total e absoluta carência de sentido." (pág. 29)

Ninguém era amigo de ninguém, apenas tolerava-se o outro. Por ser nobre, Pietróvitch ainda sofria com a discriminação e não se sentia um deles, mesmo depois de anos de convívio.

"A maior virtude, ali, era o dom de não sentir admiração fosse pelo que fosse..." (pág. 18)

O final é algo lindo, de fazer engolir o choro. Com Dostoievski é assim: você vive a angústia dos personagens até a última página. E se liberta também.

Boa leitura!

Bagagem

Adélia Prado
Record - 143 páginas

"A vida é mais tempo alegre do que triste. Melhor é ser." ("Momento" - página 46)

Ler Adélia é um ato sublime, de encantamento da alma.

Ela exalta Deus:
"Quem entender a linguagem entende Deus
cujo Filho é Verbo. Morre quem entender."
                          ("Antes do Nome" - pág.20)

"O que um homem precisa pra falar, entre enxada e sono: Louvado seja Deus!"
("Bucólica Nostálgica" - pág.42)

Ela exalta o amor:
"O que a memória ama fica eterno. Te amo com a memória, imperecível." ("Para o Zé" - pág. 101)

Ela exalta a poesia:
"A poesia, a mais ínfima, é serva da esperança."
("Tarja" - pág.54)

Quer suspirar e ter a certeza de que a vida vale a pena?
Leia Adélia.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Como eu era antes de você

Jojo Moyes
Intrínseca - 319 páginas

"...eu conseguia decifrar o cansaço em seu olhar, os silêncios, o jeito como ele parecia se refugiar dentro de si mesmo." (página 88)

Louisa Clark tem 26 anos, mora com os pais, o avô doente, a irmã e o sobrinho em uma casa pequena, que mal cabe todo mundo, e ainda ajuda com o orçamento doméstico.

Leva uma vidinha pacata com o namorado Patrick, esportista, e não tem grandes ambições. Tudo muda quando ela perde o emprego e, por não ter muitas escolhas, vai cuidar de um homem tetraplégico, Will Traynor, de 35 anos.

Will é rico, inteligente, tem um senso de humor apurado, mas sofre com sua situação: ficou tetraplégico há 2 anos, quando foi atropelado por uma moto, na ida ao trabalho. Era sócio em um escritório em Londres, tinha uma namorada linda e uma vida social intensa e agitada.
Agora, mal move uma das mãos e depende de cuidados médicos constantes. Seu desejo? Morrer em um suicídio assistido na Suíça.

Essa é a trama que vai te prender e te emocionar em cada página.

Há um ano, quando li meu primeiro livro de Jojo Moyes (A última carta de amor), chorei litros. Agora, não foi diferente.

Vale a pena a leitura!

sábado, 19 de outubro de 2013

O príncipe

Maquiavel (1469-1527)
L&PM Pocket - 198 páginas

"... o tempo tudo arrasta consigo (...) ele pode trazer o bem como o mal..." (página 21)

Sabendo que a leitura dessa obra era difícil, adiei o que pude até que decidi: é hoje!

E lá fui eu, ler as instruções de Maquiavel aos governantes para ter êxito nos seus objetivos.

Seguir exemplos dos grandes, ter o povo a seu lado, organizar um exército, fugir dos aduladores são alguns dos conselhos de Maquiavel:
"...o homem prudente deverá constantemente seguir o itinerário percorrido pelos grandes e imitar aqueles que mostraram-se excepcionais." (pág. 34)

"...muito mais seguro é fazer-se temido que amado." (pág. 97)

"Deve, portanto, o príncipe tomar todo o cuidado para que da sua boca não saiam palavras que não estejam perfeitamente coadunadas com as cinco sobreditas qualidades e para parecer, aos que o veem e ouvem, de todo misericordioso, sincero, de todo íntegro, humanitário, de todo religioso. Nada, aliás, se faz mais indispensável do que passar a impressão de possuir esta última qualidade. os homens, in universali, mais julgam pela visão que pelo tato, uma vez que todos podem facilmente ver; somente uns poucos sentir." (pág. 104)

Enfim, "belas" dicas para dominar, manipular e conquistar, coisas que estamos acostumados a ver, mesmo 500 anos depois.

Se quiser arriscar, vale a pena!

sábado, 12 de outubro de 2013

Perdão, Leonard Peacock

Matthew Quick
Intrínseca - 233 páginas

"Aquele dia fervilhava possibilidades..." (página 159)

Você compra o livro porque gostou da adaptação na telinha de um outro livro do autor e...se decepciona. Essa sou eu.

Curti o filme "O lado bom da vida" e achei que esse romance-ficção fosse legalzinho também mas...

Tudo acontece no dia em que Leonard Peacock faz 18 anos e decide matar seu ex-melhor amigo e, depois, dar cabo da própria vida. Para se despedir desse mundo cruel, ele dá um presente para 4 pessoas que são importantes em sua vida.

"...a chave é fazer algo que marque você para sempre na memória das pessoas comuns. Algo que importe." (pág. 11)

Pais ausentes, abuso sexual na infância, religião, conflitos juvenis são os ingredientes dessa trama.

Ao tratar de religião, aliás, o autor aproveita para zombar e jogar todo seu veneno sobre os cristãos. Precisava disso?

Com tanta amargura não é difícil supor de onde saíram tantas ideias homicidas/suicidas. O vazio interior grita alto quando não se conhece o verdadeiro caminho...

Se puder evitar, melhor.

sábado, 28 de setembro de 2013

Cartas de um diabo a seu aprendiz

C.S.Lewis (1898-1963)
Martins Fontes - 202 páginas

"Há dois erros semelhantes mas opostos que os seres humanos podem cometer quanto aos demônios. Um é não acreditar em sua existência. O outro é acreditar que eles existem e sentir um interesse excessivo e pouco saudável por eles." (página IX)

Conheci C.S. Lewis na minha adolescência, lendo um dos livros das Crônicas de Nárnia: O leão, a feiticeira e o guarda-roupas e foi paixão à primeira vista. Li e reli várias vezes desde então.

Amigo de J.R.R.Tolkien, esse irlandês foi ateu durante muito tempo até se converter em 1929. A partir daí, escreveu grandes obras, reconhecidas mundialmente, com alegorias cristãs, de forma lúcida, brilhante e bem-humorada.

Essa obra, em especial, seria cômica, se não fosse trágica. Usando de muita ironia, o autor mostra como o diabo usa artimanhas para nos desviar do Caminho: tio Fitafuso é um diabo que escreve cartas para seu sobrinho Vermebile com dicas de como ele deve agir para fazer tropeçar o rapaz de quem é responsável:

"Faça com ele seus pensamentos flutuem (...), esforce-se para alcançar a decepção (...) fortaleça o hábito da irritação mútua (...)" (pág.7)

Procure "solapar a fé e evitar a formação de virtudes" (pág 22).
"...queremos um homem atormentado pelo Futuro..." (pág. 76).

Estimule "o medo apavorante e o excesso de confiança..." (pág.73)

Impossível não se reconhecer em comportamentos indesejados que, sem querer, alimentamos em situações de estresse ou pressão, e justificamos como "exceções", resultantes do cansaço e da vida corrida.

Mas tio Fitafuso tem paciência em desvirtuar seus pupilos e explica isso ao seu sobrinho:

"...o caminho mais rápido para o Inferno é aquele que é gradual..." (pág. 60)

" [faça-o] percorrer toda a vizinhança em busca da igreja que "combina" com ele, até que ele se transforme num degustador, num connoiser de igrejas." (pág. 79)

Se você tem mais explicações para seus "pequenos pecados" do que há algum tempo, pode ser que esteja dando ouvidos aos Vermebiles da vida. Ainda bem que dá tempo de mudar.

Excelente leitura!

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Trilogia da Paixão

Johann W. Goethe (1749-1832)
L&PM Pocket - 139 páginas

"Quão ligeiro a bater de asas do dia,
Parecendo os minutos a empurrar!
Fiel selar da noite, um beijo iria
No sol vindouro assim querer ficar.
As horas transcorriam tão normais
E meigas como irmãs, mas nunca iguais"
(Página 15, in Elegia)

A trilogia é composta por "A Werther" (escrita sob encomenda para celebrar o cinquentenário de Os sofrimentos do jovem Werther), "Elegia" (escrita em setembro de 1823 para Ulrike de 17 anos, tendo o poeta 74) e por "Reconciliação (escrita em agosto de 1823 para a pianista polonesa Maria Szymanovska).

Das 3, "Elegia" é a mais conhecida e perfeita: tem 23 estrofes de 6 versos com estrutura coesa e é, segundo Leonardo Fróes, "um dos espasmos mais trágicos da poesia confessional de Goethe" (página 35). A poesia foi escrita após a jovem Ulrike recusar seu pedido de casamento : nela, Goethe exalta a beleza da amada, compara seus sentimentos com a grandeza da natureza, relembra a doçura dos beijos (reais?) trocados:

"Como por mim à porta ela aguardava
E felizardo aos poucos me fazia,
Após o último beijo me alcançava
E ainda mais um nos lábios imprimia,
Assim, movente e clara, e efígie amada
No coração a fogo está gravada" (página 19)

E chora:

"Só me resta um remédio, o choro infindo." (Página 23)

Trata-se de uma edição bilíngue, com comentários de Leonardo Fróes.

Recomendo a leitura!

domingo, 8 de setembro de 2013

Sonetos para amar o amor

Luís Vaz de Camões (1524-1580)
L&PM Pocket - 82 páginas

"Se nela está minha alma transformada
Que mais deseja o corpo alcançar?" (página 16)

Quando estava no colegial, meu professor de literatura nos fez decorar os primeiros versos dos Lusíadas (*) e peguei certa birra por Camões.

Mas essa birra passou ao conhecer o famoso soneto:


"Amor é um fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É um não contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É um estar-se preso por vontade;
É servir a quem vence o vencedor;
É um ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos mortais corações conformidade,
Sendo a si tão contrário o mesmo Amor
?" (pág 53)



Nos diversos sonetos selecionados para esta obra, Camões canta o amor e suas impossibilidades; a proximidade e a distância.

"De amor escrevo, de amor trato e vivo;
De amor me nasce amar sem ser amado (...)" (pág 71)

Canta também a dor: ele perdeu sua amada Dinamene em um naufrágio e fez um soneto comovente para ela.

Vale a pena a leitura!


(*)

As armas e os barões assinalados
Que da Ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca dantes navegados
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;

E também as memórias gloriosas
Daqueles Reis que foram dilatando
A Fé, o Império, e as terras viciosas
De África e de Ásia andaram devastando,
E aqueles que por obras valerosas
Se vão da lei da Morte libertando
Cantando espalharei por toda a parte

Se a tanto me ajudar o
engenho e arte.

Os Lusíadas (1572)
Canto I, 1-2
Obs: e ainda sei tudo isso de cor até hoje!     




quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Primeiro Amor

Ivan Turguêniev (1818 - 1883)
L&PM Pocket - 102 páginas

"...eu desfrutava tanto a minha inesperada felicidade que começava até a sentir medo (...) Parecia-me que já não poderia pedir mais nada ao destino..." (página 61)

Impossível não se reconhecer nos sentimentos e temores do jovem Vladimir Petróvitch, de 16 anos, que se vê apaixonado pela primeira vez por sua vizinha, Zinaída Alexándrovna, de 21, filha de uma velha princesa decadente.

"Meu coração palpitava aos pulos; eu estava envergonhado e alegre: sentia uma perturbação inédita."

Como era muito bonita, a jovem atraía vários pretendentes e fazia joguinhos
para atrai-los. Aquele que ganhasse, podia beijar suas mãos ou receber algum outro tipo de recompensa.

Zinaída via Vladimir como um garoto, mas falava que o amava. Ele, por sua vez, não entendia bem o porquê daquele tipo de comportamento, mas se contentava em estar sempre por perto, mesmo que fosse disputando sua atenção.

Um dia, ele percebe que ela mudou: estaria finalmente apaixonada? Mas, por quem?

Não podemos comparar Turguêniev com seus conterrâneos Tolstói e Destoiévski (aliás, seus desafetos e meus autores favoritos), mas vale a pena conhecer essa obra. O final vale cada lágrima que você vai derramar.

Boa leitura!


domingo, 25 de agosto de 2013

Cartas portuguesas

Mariana Alcoforado (1640-1723)
L&PM Pocket - 72 páginas

"...chego até a prezar as desgraças de que és a única causa: dediquei-te minha vida assim que te vi e sinto algum prazer sacrificando-a a ti." (página 16)

Publicadas em Paris, em 1669, com autoria desconhecida, as 5 cartas desse livro foram escritas por uma freira portuguesa ao seu grande amor, um oficial do exército francês(*).

As cartas comovem pelo desespero, pela entrega total e sem medida, pela dor, pelo amor incondicional:

" A tua ausência rigorosa, e talvez eterna, em nada diminui a veemência do meu amor..." (carta)

O silêncio do seu amado a machuca e, a cada carta, a dor fica mais evidente:

"Eu não sei nem o que sou, nem o que faço, nem o que desejo: encontro-me dilacerada por mil movimentos contraditórios..." ( carta).

É para ler e sofrer com a pobre freirinha.
Boa leitura!


(*) Apenas em 1810, a autoria foi atribuída à sóror Mariana Alcoforado, do convento da Nossa Sra da Conceição (Beja, Portugal).

sábado, 24 de agosto de 2013

Cem sonetos de amor

Pablo Neruda (1904-1973)
L&PM Pocket - 124 páginas

"Te amei sem que eu o soubesse, e busquei tua memória..." (Soneto XXII - página 30)

Impossível amar poesia e não conhecer o poeta chileno Pablo Neruda.

Essa obra é dedicada à sua terceira esposa, Matilde, e é repleta de lirismo, paixão, dor e, claro, muito amor:

"Amo o pedaço de terra que tu és..." (trecho do soneto XVI- pág 24)

"Antes de amar-te, amor, nada era meu:
vacilei pelas ruas e as coisas:
nada contava nem tinha nome:
o mundo era do ar que esperava (...)

Tudo estava vazio, morto e mudo,
caído, abandonado e decaído,
tudo era inalienavelmente alheio (...)"
(trecho do soneto XXV- pág 33)

"Tu és o pão de cada dia para minha alma..."
(trecho do soneto LXXVII- pág 90)

Poesia pura para os apaixonados: leitura obrigatória!

Obs: Se quiser conhecer um pouco mais da vida desse grande poeta, leia a autobiografia "Confesso que vivi".
Mas fica um alerta: você vai se emocionar. E muito!

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Toda Poesia


 
 
Paulo Leminski (1944 - 1989)
Companhia das Letras - 421 páginas

"Uma vida é curta
para mais de um sonho." (página 15)

O curitibano Paulo Leminski se equilibrou entre a poesia concreta, formal e a lírica, prosaica.

Toda Poesia é uma coletânea de suas obras: Distraídos venceremos, La vie em closeQuarenta clics em Curitiba, Caprichos & relaxos,  além de poemas esparsos.

O poeta, claro, fala de amor:

"basta um instante
e você tem amor bastante" (pág 295)

" a noite-enorme
tudo dorme
menos teu nome" (pág 317)

Fala de segredos:

"ler se lê nos dedos
não nos olhos
que olhos são mais dados
a segredos." (pág 342)

Evoca os céus, a noite, as estrelas:

"a noite
me pinga uma estrela no olho
e passa" (pág 91)

"só uma nuvem
te separa
das estrelas" (pág 93)

O poeta clama pela eternidade...

"abrindo um antigo caderno
foi que eu descobri
antigamente eu era eterno." (pág 235)

...e resiste ao tempo:

"na rua
sem resistir
me chamam
torno a existir" (pág 117)

O poeta cria, comove, espanta, provoca.

Leia essas poesias inteiras: "Rumo ao Sumo" (minha preferida), "Bem no fundo", "Além alma" e "O que passou passou?" e evite suspirar.
Impossível, né?

Leitura mais-que-recomendada!

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Quando a esperança vence

Marli Spieker
Radio Trans Mundial - 189 páginas

"Descobri então que o sofrimento universal da mulher não é só uma questão de gênero, de ordem social ou econômica, mas um problema intrínseca e profundamente espiritual." (página 35)

Marli cresceu em um lar cristão e, quando já era avó, mudou com o marido para Cingapura, para acompanhá-lo em seu novo desafio profissional como diretor de uma rádio cristã.

Em um dia de muito calor, ela foi espairecer em um shopping. Lá viu um casal que a perturbou muito: a mulher usava uma burca preta e quente. O marido, por sua vez, usava "uma camiseta de algodão bem confortável de mangas curtas."

Naquele momento, ela orou: "Senhor! Como pode um ser humano aprisionar outro ser humano desta forma?"(...) Senhor, o que o Senhor quiser que eu faça para tirá-la da escuridão, farei!"

E assim surgiu o Projeto Ana, da RTM (uma radio cristã), que oferece compaixão e esperança às mulheres sofredoras no mundo todo, por meio de 3 ações principais: oração, conscientização e programação de rádio. 

Esse livro traz alguns testemunhos de mulheres que tiveram suas vidas transformadas graças às mensagens ouvidas. A maioria veio conhecer Jesus como Senhor e Salvador, num momento de dor, abuso, perda e tiveram suas vidas restauradas.

São testemunhos que comovem e que nos inspiram a não perder a fé, nem a esperança, apesar das fases difíceis da vida.

Vale a pena a leitura!

 

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Talmidim - O passo a passo de Jesus

Ed René Kivitz
Editora Mundo Cristão - 375 páginas

"Ser testemunha de Jesus não é apenas dizer o que Jesus fez em minha vida (...) é ser uma expressão da pessoa de Jesus." (página 15)

Talmidim em hebraico significa discípulos, aprendizes e designavam os jovens meninos judeus que seguiam seu mestre (rabino), "comendo" a poeira de seus pés, para aprender de perto.

De forma similar, esse livro nos convida a seguir os passos de Jesus e aprender mais sobre o viver cristão.

"Ser perfeito é amar como Deus ama." (pág 17)

O que é fé, crença, religião? O que significa perdoar? O que é graça e salvação?

Com textos simples e esclarecedores, o pastor Ed nos leva a caminhar por diversos versículos bíblicos e nos estimula a refletir sobre nosso comportamento nos tempos atuais.

"...devemos viver o que pregamos para podermos pregar o que vivemos." (pág 161)

Temos agido na base da barganha, do medo ou pelo amor? Temos nos compadecido do sofrimento do próximo? Temos vivido como cristãos?

Num tempo que a "umbigolatria" reina absoluta, ainda há espaço para agirmos como o bom samaritano?

"Quem não ama, não vive. Pelo menos, não em plenitude." (pág 211)

Leitura maravilhosa e obrigatória!

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Amor e Silêncio

Fernanda K. Soifer
Artliber - 384 páginas

Fish got to swin, birds got to fly,
I got to love one man till I die.
Can´t help lovin´dat man of mine.

[ trecho da música Can´t help lovin dat man, cantada por Elisa Steiner  - página 291]

Elisa Steiner decide matricular sua filha Karina, de 5 anos, na mesma escola que estudara na infância e adolescência e, no dia da visita, reencontra o grande amor da sua vida - o professor de História, Mariano.

A partir daí, ela narra detalhes sua adolescência: a paixão avassaladora pelo professor (que é 30 anos mais velho e casado), as amizades, a separação dos pais, as aulas de canto e teatro, as viagens com a turma do colégio.

Elisa, aos 15 anos, descobre ter um grande potencial para a música clássica e só decide investir seu tempo e sentimento nas aulas de canto como soprano, pois canta para seu amor Mariano.
Magnólia/Elisa não canta apenas para Ravenal (no musical Show Boat), mas para Mariano e, por isso mesmo, consegue tirar o melhor de si, emocionando a todos. E não para por aí: interpreta, entre outros personagens, Violetta (da ópera La Traviatta de Verdi) e Micaela (de Carmen de Bizet). Em todos os momentos, sua fonte de inspiração é ele.

O tempo passa, o destino apronta surpresas e agora ela se vê diante da possibilidade de resolver pendências do passado.

Vale a pena a leitura!

segunda-feira, 22 de julho de 2013

O amante de lady Chatterley

D.H.Lawrence (1885-1930)
Penguin Companhia - 554 páginas

"E até então, assim era a vida: num vácuo. Quanto ao resto, era uma não existência." (página 65)

Lawrence escreveu essa obra num cenário de dor e sofrimento, pouco antes da sua morte: ele sofria de tuberculose e sua esposa, Frieda, tinha um caso amoroso com um italiano. Além disso, a Europa ainda sofria com as perdas humanas na Primeira Guerra Mundial. A vida não estava fácil...

Daí, podemos entender um pouco o contexto da trama: o baronete Sir Clifford casa-se com Constance em 1917 e pouco depois vai para a guerra. Volta paralítico no ano seguinte e se refugia em Wragby Hall, casarão que fica no campo, perto das minas da família.

"Clifford Chatterley era de classe mais alta que Connie. Ela pertencia à intelligentsia bem de vida, mas ele vinha da aristocracia. [Doris Lessing, tradutora - página 52]

Ele, então, se dedica a escrever, publicar seus textos e sair nas colunas sociais. Se fecha em seu mundo, sem dar a atenção e o devido carinho à mulher. Ela, por sua vez, não tem nada a fazer além de cuidar dele e receber seus amigos para jantares e conversas que a entediam.

Um dia, porém, Constance (Connie) conhece o guarda-caça Mellors, que trabalha para Clifford e mora num casebre na propriedade, e sua vida toma um rumo bem mais intenso e significativo. Os conflitos de classe aparecem, mas o amor entre eles tende a superar todos os obstáculos. Será que vão conseguir?

Na época em foi publicado, o livro foi proibido na Inglaterra e nos Estados Unidos. Hoje é algo água com açúcar se comparado aos Cinquenta Tons de Cinza da vida.

Boa leitura!

sábado, 13 de julho de 2013

Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra.

Mia Couto
Companhia das Letras - 262 páginas

"A vontade é de chorar. Mas não tenho idade nem ombro onde escoar tristezas." (página 18)

Fui apresentada à obra de Mia Couto por um querido amigo, há quase 3 anos e me encantei por sua sensibilidade.

Esse autor moçambicano fala dos brancos e pretos, da terra e da cidade, do pobre e do rico, da vida e da morte. Aqui não é diferente: o jovem Mariano é chamado a voltar para a Ilha de Luar-do-Chão para dirigir a cerimônia fúnebre de seu avô, Dito Mariano. Morando na cidade, agora se sente um estranho em sua própria terra e família.

O médico do avô - o indiano Amílcar Mascarenha - , por sua vez, não consegue precisar se Dito está mesmo morto e, quando o neto chega na casa, entende que sua principal missão não é enterrar o avô, mas trazer ordem e paz à Nyumba-Kaya (seu lar).

"...quem parte de um lugar tão pequeno, mesmo que volte, nunca retorna."

Personagens marcantes carregam suas histórias e viajamos junto com eles: dona Miserinha (a negra gorda que enxerga sombras), Curozero Muando (o único coveiro da ilha), padre Nunes (que permite com que um burro viva dentro da igreja), tia Admirança, tio Abstinêncio, tio Ultímio, pai Fulano Malta, vó Dulcineusa. Não são apenas nomes estranhos e curiosos, mas representam pessoas com seus segredos, sonhos, amores e dores.

"Era ela [ a cega Miserinha ] que estava vendo sombras? Ou seriam os demais que já nada enxergam, dentro dessa cegueira que é deixarmos de sofrer pelos outros?"

Poesia, lirismo e muitas alegorias estão presentes do começo ao fim, assim como em O Outro pé da Sereia, que foi o primeiro livro que li de Mia.

Excelente dica de leitura para as férias!

terça-feira, 9 de julho de 2013

A vida secreta de um sentimento

Kelly Soares
Scortecci Editora - 192 páginas

É com muita alegria que comento o livro da querida Kelly, uma pessoa incrível que vive a vida na sua plena intensidade: seja na alegria, seja na dor.

No livro, ela narra os momentos alegres e cheios de romantismo ao lado do grande amor de sua vida.

Além disso, com muita coragem, fala de fatos que, normalmente queremos esquecer, especialmente por se tratar de perdas.

Porém, com a ajuda de Deus e da família maravilhosa, ela soube dar a volta por cima e conseguiu escrever um pouco de tudo que passou nos últimos anos acerca de: carreira, família, amigos,  sonhos e...seu grande amor, não necessariamente nessa ordem.

É livro para rir, chorar, se envolver mesmo. Enfim, se emocionar.

Boa leitura!

Obs. quem quiser, pode adquiri-lo diretamente com ela (lilisoa@uol.com.br) ou virtualmente.

Obs2. Segue a dedicatória...Claro, imprescindível!



segunda-feira, 8 de julho de 2013

Lavoura Arcaica

Raduan Nassar
Companhia das Letras - 194 páginas

"...Nós nos olhamos e num momento preciso nossas memórias nos assaltaram os olhos em atropelo, e eu vi de repente seus olhos se molharem, e eu senti nos seus braços o peso dos braços encharcados da família inteira..." (página 9)

André sai de casa e se refugia em uma pensão na cidade, pois não concorda com a forma como o pai conduz a vida da numerosa família na fazenda. Além disso ele ama Ana, sua irmã.
Pedro, o irmão mais velho, o encontra na pensão e tenta convencê-lo a voltar, afinal a família toda está sofrendo - e muito!

A partir daí, vemos não apenas o embate de palavras entre os irmãos, mas as lembranças de André, em diversos momentos do tempo.
Finalmente, ele se sente livre para dizer o que pensa: confessa seus medos, seu amor incestuoso e sua inconformidade com a tradição paterna.

O final é arrebatador.

Leitura forte e obrigatória.

O Palácio da Meia-Noite

Carlos Ruiz Zafón
Suma de Letras - 271 páginas

"O mundo é dos loucos ou dos hipócritas." (página 260)

Escrito em 1994, esse é o segundo volume da trilogia juvenil de Zafón e, talvez por fazer parte do início de sua carreira, contém algumas falhas, que não passam despercebidas ao leitor atento.
Como o próprio autor diz no prefácio: "Achei que seria mais honesto deixá-la tal qual foi escrita, com os recursos e a perícia que tinha época." Ponto para ele pela honestidade.

A trama gira em torno dos irmãos gêmeos e órfãos Ben e Sheere, moradores da pobre Calcutá dos anos 30. Ele viveu até os 16 anos em um orfanato - St Patrick´s - quando teve que sair de lá. Ela, morou com a avó Aryami Bosé. Agora que são jovens, suas vidas correm perigo e não será fácil se esconder do maligno e misterioso Jawahal.

Para ajudá-los, contam com os amigos da Chowbar Society, um grupo de 7 jovens órfãos que existe para proteger uns aos outros.

A história é fraca e cansativa, bem diferente das obras que o autor publicou posteriormente, como Marina e A Sombra do Vento, que foram sucesso pelo mundo afora.

Se for para conhecer o autor, prefira as outras obras dele.

terça-feira, 2 de julho de 2013

O Prisioneiro do Céu

Carlos Ruiz Zafón
Suma de Letras - 246 páginas

"Às vezes a pessoa se cansa de fugir(...). O mundo é muito pequeno quando não se tem aonde ir." (página 80)

Daniel Sampere e Bea estão de volta, agora 1 ano após o casamento, já com um filhinho (Julián).

Depois do sufoco que passaram em A Sombra do Vento, tudo parece ter entrado nos eixos: estão felizes e na expectativa do casamento de Fermín com Bernarda. Mas, como nada é perfeito, aparece um homem misterioso na livraria "Sampere e Filhos", disposto a pagar um valor absurdo por um exemplar de O Conde de Montecristo. O curioso é que ele deixa esse exemplar de presente para Fermín com uma dedicatória enigmática.

A partir daí, Daniel o ajuda a desvendar esse mistério e descobre coisas sobre o passado de sua mãe, Isabella, e do amigo dela, David Martín (de O Jogo do Anjo).

As reviravoltas no tempo e no espaço são características de Zafón: é pegar e não largar!

Boa leitura :)

quinta-feira, 27 de junho de 2013

O Jogo do Anjo

Carlos Ruiz Zafón
Suma de Letras - 410 páginas

"Todos nós abandonamos grandes esperanças pelo caminho..." (página 183)

Há 2 anos, quando li Zafón pela 1a vez, me apaixonei pelo seu estilo e talento. A Sombra do Vento me prendeu pela trama e Marina, pela sensibilidade.
Agora, essa obra me atraiu pela curiosidade: voltamos para a Barcelona do século XX, mas um pouco antes da trama de A Sombra do Vento. Lá, vimos a história de Daniel Sampere. Aqui, temos a história de seu avô e pai, Sampere Júnior, em uma trama secundária, mas igualmente envolvente. O enredo principal se dá com David Martín, um jovem escritor que viu seu pai ser assassinado, e que é mal pago pelos seus livros e escritos.

Tudo muda quando recebe o convite do misterioso editor de livros Andreas Corelli, para escrever a obra que mudará a sua vida pessoal e financeira. O mundo seria perfeito se o preço a pagar não fosse tão alto.

Assim como em A Sombra do Vento, a trama de David se mistura com a de outro personagem, Diego Marlasca, outro escritor que recebeu o mesmo desafio que ele anos antes e que morreu de forma misteriosa antes de concluir sua missão.

Reviravoltas, surpresas, mudanças de rumo e mistério permeiam o livro todo de forma surpreendente. Pena que o final não tenha sido aquilo que eu esperava e que o autor tenha se perdido na fantasia.

Mesmo assim, vale a pena a leitura!


p.s. e pra quem foi atento ao trecho que separei no começo, sim o autor faz uma homenagem a Charles Dickens, com sua obra prima Grandes Esperanças.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Principados e poderes: reflexões pastorais sobre batalha espiritual

José Ildo Swartele de Mello
Ed Filhos da Graça - 200 páginas

"A Bíblia começa com a descrição de um paraíso terreno e termina com a revelação de um paraíso celestial. Entre um e outro, relata muitas batalhas espirituais." (página 17)


Foi com alegria que estive no lançamento desse livro no fim do mês passado para prestigiar meu ex-pastor, um verdadeiro servo de Deus.

E, claro, ao ler o livro não me decepcionei, pelo contrário, pude comprovar como ele foi usado pelo Espírito Santo para falar sobre um tema tão importante em nossas vidas: as batalhas espirituais.

Na obra, o bispo Ildo nos explica que batalhas são essas (sua origem, natureza e propósito), quem são nossos adversários e como devemos enfrentá-los.

"A batalha espiritual consiste na luta cotidiana do cristão por resistir às tentações e todas as investidas de Satanás, mantendo fidelidade em busca de santidade e maturidade cristã, vivendo para a glória de Deus, buscando Seu Reino em primeiro lugar, revestidos de toda a armadura de Deus (Efésios 6:10-20)."

Cristo já venceu a principal batalha e nos garante a vitória no dia final, mas até lá estamos "sujeitos a ataques e aflições". Daí a importância do nosso relacionamento com Deus e com nossos irmãos.

Por fim, o autor desmistifica certas práticas comuns no contexto evangélico de hoje, que não condizem com as Escrituras.

O livro é didático, claro, objetivo e instruidor. Irá abençoar a sua vida e trará luz às diversas questões sobre o assunto.

Quer saber onde comprar?
Clique aqui e boa leitura!

p.s. segue a minha dedicatória =]

quarta-feira, 5 de junho de 2013

A varanda do frangipani

Mia Couto
Companhia das Letras - 147 páginas

"[No asilo] se descoloriam os tempos, tudo engomado a silêncios e ausências." (página 11)

Ermelindo Mucanga, carpinteiro, morreu às vésperas da Independência de Moçambique. Foi enterrado, então, embaixo de um pé de frangipani, árvore que dá flores lindas e perfumadas, próximo à fortaleza de São Nicolau.

Passadas 2 décadas, o local passa a abrigar um asilo e as autoridades decidem transformar Mucanga em herói póstumo, o que não lhe agrada. Para se safar desta, seu fantasma precisa ocupar um corpo vivente que está prestes a morrer. O escolhido é o inspetor de polícia, Izidine Naíta, que chega ao asilo para apurar a morte do diretor, Vasto Excelêncio, assassinado em condições misteriosas.

Ao entrevistar os velhos do asilo, Naíta percebe que não falam a verdade, mas mesmo assim os ouve: é a única forma de conseguir alguma informação sobre o assassinato.

O autor, como de praxe, recorre à fantasia, à poesia e a elementos da cultura local para criar essa trama de mistério, que nos faz refletir sobre questões sociais, como a velhice, a política e as politicagens do mundo.

"...primeiro, me acabou o riso; depois, os sonhos; por fim, as palavras. É essa a ordem da tristeza."

Vale a pena a leitura!

sábado, 1 de junho de 2013

A Rosa do Povo

Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)
Companhia das Letras - 188 páginas

"As palavras não nascem amarradas,
elas saltam, se beijam, se dissolvem..."
(página 9 - "Consideração do Poema")

Esse mineirinho de Itabira tinha o dom de desatar as palavras.

Essa obra, publicada em 1945, mostra um poeta que se comove com as dores da guerra e com a morte (como em "Carta a Stalingrado", " Visão 1944" e "Morte no avião"). É um poeta maduro, que faz um balanço da vida, do tempo, das perdas ( como em "Ontem" e "Indicações").

O tempo e seus contratempos são o mote do livro.

"O rosto no travesseiro,
escuto o tempo fluindo
no mais completo silêncio..."
("Desfile")

"Este é tempo de partido,
tempo de homens partidos."
("Nosso tempo")

"No quarto do hotel
a mala se abre: o tempo
dá-se em fragmentos..."
("Assalto")

O tempo não poupa dores, nem amores.

"O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua..."
("Consolo na praia")


Excelente leitura a qualquer tempo!

quarta-feira, 1 de maio de 2013

O caminho das pedras para jovens



Iara Suckow Barbosa
Encontro Publicações - 110 páginas

"A reconciliação sempre indica algum movimento. Alguém precisa estar disposto a perdoar, e isso não é tão fácil de ser alcançado. Perdão é como um dom, algo sobrenatural que, para ser autêntico, deve passar por um profundo senso de humildade e pelo auxílio de Deus." (página 74)

Utilizando um conto de fadas - a história de João e Maria - como ponto de partida, a autora tira lições valiosas para adolescentes e jovens.

Tal como João que pegou pedrinhas para sinalizar sua volta pra casa, ela ajuda o leitor a definir estratégias para superar em paz cada pedrinha da vida.

Temas como solidão, ansiedade, crise existencial, ilusão do mundo, rebeldia, perdão, escolha profissional, namoro, beleza, dinheiro e crescimento físico e espiritual são abordados em capítulos curtos, sempre com um ensinamento cristão.

Excelente leitura para adolescentes, pais e professores!


segunda-feira, 29 de abril de 2013

A Humilhação

Philip Roth
Companhia das Letras - 102 páginas

"Sou um mentiroso. E nem mesmo sei mentir bem. Sou uma fraude." (página 28)

Simon Axler, um ator de 65 anos, de repente percebe que seu talento se foi: não consegue mais subir num palco e interpretar:

"uma sorte esse talento que me foi dado, uma sorte que já passou." (pág 29)

A mulher o abandona e, sem saber como seguir a vida, decide se internar num hospital psiquiátrico. Seria o fundo do poço?

Então, depois de 26 dias, ele volta para casa e reencontra Pegeen Stapleford, 25 anos mais nova, filha de um casal de amigos atores.

De repente, Simon se vê envolvido por Pegeen e ambos decidem "assumir o risco" de um relacionamento. Seria o momento de sair do poço e tentar uma nova vida?

Boa leitura!

terça-feira, 23 de abril de 2013

Caravana Contrária

Mário Chamie (1933 -2011)
Geração Editorial - 204 páginas

"Amor é / a força / viva da dor. / Mas dor / de amar / é a força viva / do amor, / sombra que morre / sem passar, / sol que nasce / sem se por." ( Sol Permanente - página 74)

A poesia de Chamie é única: não dá pra comparar. Surpreendente, insana, impossível, irreverente, humana, filosófica (esta como bem lembrou Gilberto Freyre, certa vez).

Suas palavras carregam mais que simbolismos:

"Por trás / de toda palavra / há uma trama / cavada." (trecho de Por trás da palavra - pág 43)

São labirínticas:

"O sábio que há em você / não sabe o que sabe / o tolo que não se vê. / Sabe que não se vê / o tolo que não sabe / o que há de sábio em você. / Mas o tolo que há em você / não sabe o sábio que você vê." (O tolo e o sábio - pág 143).

Boa leitura!

sábado, 20 de abril de 2013

História Fácil

Zezina Bellan
Z3 Editora - 122 páginas

" A boa história é aquela que produz emoção. Porque a emoção produz aprendizagem." (página 18)

O livro é dividido em 3 partes:
1) Os tipos de histórias para as crianças (contos de fadas, fábulas, lendas etc)
2) O papel das histórias no desenvolvimento infantil  ( o que explorar em cada idade e de que forma) e
3) Técnicas para contar histórias (com fantoches, sucatas, livros etc).

Apesar de interessantes, tudo é tratado de forma muito superficial. A autora, por exemplo, menciona 30 técnicas para contar histórias, mas não se aprofunda, nem ilustra nenhuma. Descreve basicamente o que é e sugere a criatividade para explorar a técnica.

Além disso, ao falar dos contos de fadas, por exemplo, emenda com a história bíblica de Isaque e Rebeca da seguinte forma: " Na Bíblia também há histórias com estas características literárias..." (página 22), dando a entender, de forma involuntária, que o relato bíblico também é um conto de fadas.

Claro que não deve ter sido proposital, mesmo porque ao falar das fábulas e relatar outra história bíblica em seguida, ela ressalta que "... não se pode classificar uma história bíblica como sendo fábulda porque, estando inserida na Bíblia - a Palavra de Deus - acreditamos ser verdade e ter acontecido realmente." (página 30)

A obra é interessante, mas deixou muita coisa solta, no ar.
Funcionou como um prefácio de algo que poderia ter evoluído com exemplos mais objetivos e edificantes.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Maravilhosa Graça

Philip Yancey
Editora Vida - 278 páginas

"...a graça é realmente surpreendente: trata-se de nossa última palavra perfeita." (página 11)

Numa época de legalismos e moralismos, ler sobre graça é um bálsamo para a alma.

Os fariseus de plantão, que insistem em ver o cisco no olho alheio e fazem vista grossa às suas próprias imperfeições, existem aos milhares. Muitos agem, escrevem e se promovem como donos da verdade, mas na prática são egoístas e idólatras do próprio ego. Onde estão os frutos do Espírito? Onde estão o amor, o perdão, a graça?

O autor nos leva a refletir sobre esses assuntos e comportamentos, primeiro com a definição do que é graça e, depois mostra o que ela faz em/por nós. 

"[a graça trata] de não levar em conta" (pág 55)

"Graça significa que não há nada que possamos fazer para que Deus nos ame mais (...) e significa que não há nada que possamos fazer para Deus nos amar menos." (pág 64)

"A lei simplesmente indicava a enfermidade; a graça realizou a cura" (pág 197)

Depois, ele traz esses conceitos para os dias atuais, onde política e religião se tornaram "a bola da vez":

"...estamos enfatizando menos a misericórdia e mais a moralidade." (pág 217)

Com lucidez, o autor nos leva a caminhar com compaixão, amor e perdão diante dos conflitos da vida.

Difícil?

Talvez, mas nesse caso dar um passo com "graça" já mais que meio caminho andado.

Boa leitura!

segunda-feira, 4 de março de 2013

Corações descontrolados

Ana Beatriz Barbosa Silva
Ed Fontanar - 229 páginas

Os borders vivem literalmente "nos limites". (página 25)

Ah, ela só pode ser "border"! Essa foi a conclusão de uma amiga sobre o comportamento de uma colega em comum, depois de anos de estranhamento de certas atitudes dela.

Fiquei com isso na cabeça e, quando essa amiga me emprestou o livro (da qual já tinha ouvido falar), não tive como recusar. A curiosidade falou mais alto.

Em resumo, borderline  é um tipo de personalidade "que vive o tempo todo no limite do desespero afetivo frente à possibilidade do abandono e rejeição". 

Os borders são pessoas intensas, que vivem fortes emoções e explodem quando se sentem acuadas/abandonadas/desprezadas. Assumem comportamentos de risco, possuem hiperatividade emocional, humor oscilante, ira inapropriada, sentimento de vazio, sentimento de ódio em relação a si mesmo, dificuldade de concentração, entre outros.

Claro que não basta elencar todas essas características e sentimentos para rotularmos alguém de "border". Apenas um profissional poderá dar o diagnóstico correto. Sem falar que em nossas vidas, em momentos e situações específicas, podemos adotar um comportamento similar e, no entanto, estamos passando "apenas" por uma depressão ou uma crise de ansiedade.

Eu estava bem empolgada com o livro até que li que a autora foi acusada de plágio, por se apropriar de parágrafos inteiros sem os devidos créditos. Aí, parece que a leitura perdeu a graça - e a credibilidade: será que os exemplos dados realmente existiram? 

De qualquer forma, fui até o fim e achei interessante a lista de celebridades que ela elaborou, a partir da suspeita de que poderiam ter sido borders: Amy Winehouse, Marilyn Monroe, Janes Joplin, Elizabeth Taylor.

Só a breve análise de cada um já compensou a leitura do livro. Mas que fiquei com o pé atrás, ah fiquei!