sábado, 23 de fevereiro de 2013

Clarice,

Benjamin Moser
Cosac Naify - 752 páginas

"Não sou pretensiosa. Escrevo para mim, para que eu sinta a minha alma falando e cantando, às vezes chorando..." (página 240)

Grande escritora do século passado, brasileira naturalizada (nasceu na Rússia), Clarice ou Chaya, seu nome real que em hebraico significa "vida", foi uma mulher intensa, que transbordava de si nas palavras e nas ações.
"Tudo me atinge - vejo demais, ouço demais, tudo exige demais de mim."

Veio para o Brasil com cerca de 1 ano de idade, fugindo da guerra e da perseguição aos judeus. Sua mãe sofreu abuso sexual, seu avô foi assassinado.

Cresceu com suas irmãs mais velhas, Tânia e Elisa, e seu pai aqui no Brasil (Recife e Rio). Aos 13 anos, decidiu ser escritora ("tomei posse da vontade de escrever") e só parou ao morrer, aos 56 anos.

Casou com um diplomata (Maury Gurgel Valente), morou no exterior (mas sentia saudades do seu país, o Brasil: "Tudo é terra dos outros, onde os outros estão contentes..."), teve 2 filhos, um deles com esquizofrenia. Conviveu com grandes nomes da literatura brasileira e sul-americana (como Érico Veríssimo, Rubem Braga, Fernando Sabino, Nélida Piñon), desafiou paradigmas (era mulher e judia numa sociedade machista). Sofria de insônia, tomava calmantes, escrevia para viver (apesar de ter recebido pouco pelo seu trabalho).

Foi tachada de mística (consultava cartomantes) e bruxa (participou de um congresso mundial de bruxaria na Colômbia). Questionou Deus: afinal, porque os judeus tinham que sofrer tanto? Não tinha paz.

"...estou desiludida. É que escrever não me trouxe o que eu queria, isto é, paz." (pág. 444)

"sou um descrente que profundamente quer se entregar." (pág. 546)

"Estou escrevendo porque não sei o que fazer de mim. Quer dizer, não sei o que fazer com meu espírito." (página 600)

Pouco antes de morrer mandou um exemplar de A hora da estrela com a inscrição "Eu sei que Deus existe" para Tristão de Athayde.
Só então ela teve paz e dormiu.

Leitura obrigatória!