sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Fim

Fernanda Torres
Companhia das Letras - 203 páginas

"A morte nada tem de natural. Faltava a revolta, o desamparo, o luto de antigamente. Faltava o morrer de amor." (página 110)

"Fim" conta a história de vida de 5 amigos cariocas - Álvaro, Sílvio, Ribeiro, Ciro e Neto - nos idos anos 60 e o respectivo fim de cada um.

Os amigos têm personalidades e modos de pensar diferentes, mas têm também muitas histórias pra contar! Festas, passeios, dramas, alegrias, separações, traições, dores, arrependimentos: a trama de cada um permeia a dos outros.

Cada capítulo mostra o ponto de vista de um personagem: um amigo, a esposa deste ou uma filha, por exemplo. Muitos fatos comuns são narrados mais de uma vez, mas sempre por um elemento novo, com um novo olhar, uma nova perspectiva, numa espécie de quebra-cabeças. A ideia é juntar as peças para entender as diversas situações.

Sempre admirei a atriz Fernanda Torres: bonita, desinibida, bem humorada e inteligente. Agora, então, com esse talento para a escrita, virei fã da minha quase sósia (ah, tem gente que me acha parecida com ela...). 

Excelente leitura para as férias: é para ler, se divertir e...não querer largar até o fim!

Boa leitura!

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Na praia

Ian McEwan
Companhia das Letras - 128 páginas

"Seus pensamentos não pareciam ser seus - eram soprados até ela, pensamentos em vez de oxigênio." (página 64)

Esta é a história da lua de mel de Edward e Florence, em um hotel à beira mar na praia inglesa de Chesil, próximo ao Canal da Mancha.

Não dá para falar muito para não estragar o prazer da leitura, mas o fato é que ambos são jovens, educados e virgens e carregam seus medos, dúvidas e ansiedades neste dia.

Ela vem de família abastada, toca violino e sonha em fazer sucesso com um quarteto. Ele é historiador, curte rock and roll e, em certo momento, foi trabalhar com o pai dela.

Enquanto os recém-casados vão tomando consciência de que agora um é cônjuge do outro, trechos de momentos de suas vidas e namoro, passam por suas mentes e é por isso que vamos conhecendo um pouco mais de cada um.

"Continuavam a fitar os olhos um do outro - e nisso se consumavam." (pág. 69)

É um livro curto, mas que provoca boas reflexões sobre nossos verdadeiros sentimentos, medos e vontades.

Vale a pena a leitura!


terça-feira, 7 de janeiro de 2014

O fio das missangas

Mia Couto
Companhia das Letras - e-book

"A missanga, todos a vêem.
Ninguém nota o fio que,
em colar vistoso, vai compondo as missangas.
Também assim é a voz do poeta:
um fio de silêncio costurando o tempo."

Vou me acostumar a ler no iPad, mas quem ama sentir o papel na ponta dos dedos, como eu, ainda apanha com a leitura online.

De qualquer forma, ler Mia sempre é um deleite. Nessa obra, temos 29 contos fantásticos, repletos de poesia, lirismo, magia e doçura.

Os opostos sempre convivem juntos: amor/ódio, vida/morte, certezas/incertezas, presenças/ausências, crenças/descrenças.

"Não existe terra, existem mares que estão vazios." [ em "O peixe e o homem"]

O tempo não flui igual para todos e sempre é tratado de forma poética:

"Há um rio que atravessa a casa. Esse rio, dizem, é o tempo. E as lembranças são peixes nadando ao invés da corrente." [em "Inundação"]

"O tempo é um fruto: na medida, amadurece; em demasia apodrece." [em "Uma questão de honra"]

Os sentimentos ganham cores e intensidades absurdas:

"Estou tão feliz que nem rio. Deito-me com desleixo, bastando-me eu e eu." [em "Os olhos dos mortos"]

"A solidão se enroscou, definitiva, no seu viver." [em "O caçador de ausências" ]

"Chorar é um abrir do peito..." [em "Os machos lacrimosos"]

Vale a pena a leitura!


domingo, 5 de janeiro de 2014

Antes de nascer o mundo

Mia Couto
Companhia das Letras - 277 páginas

"... sou a letra que aguarda pelo afago dos teus olhos." (página 134)

Silvestre Vitalício se exilou em um fim de mundo de Moçambique, longe da civilização, com seus dois filhos (Ntunzi e Mwanito), seu cunhado (Aproximado) e seu serviçal (Zacaria Kalash), depois que sua esposa (Dordalma) faleceu.

Esses não são seus nomes de batismo: todos receberam um novo nome nessa terra de ninguém, que também recebeu um nome, Jerusalém, e passaram a viver sob as ordens e os delírios de Vitalício.

"Neste mundo existem os vivos e os mortos. E existimos nós, os que não temos viagem." (pág. 54)

Quem narra a história é Mwanito, 11 anos, que não se recorda da cidade de onde viera, nem de sua mãe. Ele aprende a ler e a escrever com o irmão mais velho, escondido do pai, rabiscando um velho baralho de cartas.

"...a escrita era uma ponte entre tempos passados e futuros (...) No jogo com a escrita, perdi-me sempre." (pág. 42)

Um dia, ele se depara com uma mulher (Marta) em Jerusalém, uma portuguesa branca e se assusta com os sentimentos que são despertados nele. Ela, por sua vez, está à procura de Marcelo, o marido que a traíra.

De uma forma que é peculiar de Mia Couto, vamos conhecendo os segredos de cada personagem, seus medos e seus desejos. A vida se avoluma e se perde, conforme o ritmo das tragédias e alegrias de cada um.

"A vida é demasiado preciosa para ser esbanjada num mundo desencantado." (pág. 23)

Ainda bem que existe um Mia para nos encantar com suas palavras...

Boa leitura!