sábado, 25 de junho de 2016

Retrato do artista quando jovem

James Joyce (1882-1941)
Coleção Folha - 272 páginas

"Ele não tinha morrido mas tinha desbotado como um filme ao sol.  Tinha se perdido ou se afastado da existência para a qual não mais existia." (página 96)

Stephen Dedalus é criança quando a obra começa. Estuda na Clongowes, onde tem uma rígida educação católica. As aulas, as brincadeiras com os colegas, os estudos. Tudo acontece sob a ótica do regime do internato, onde até quebrar os óculos pode ser motivo para levar "bolos" de palmatória de um padre.

O menino se torna adolescente e aos 16 anos conhece o sexo sem compromisso. Ele se entrega, mas depois se arrepende e se martiriza. Sofre. E, diante do medo do inferno eterno, busca a remissão de seus erros e de sua culpa na confissão.

"Ele havia cometido um pecado mortal não apenas uma mas diversas vezes e sabia que, embora arriscasse a danação eterna apenas em função do primeiro pecado, a cada pecado ulterior multiplicava a culpa e o castigo. " (pág. 109)

Mas Stephen cresce e começa a questionar a religião, os costumes sociais e as práticas familiares, ao mesmo tempo que evolui na escrita de suas poesias e na leitura de grandes pensadores e filósofos.

O menino, por fim, cria asas.

Boa leitura!


quarta-feira, 22 de junho de 2016

Vidas provisórias

Edney Silvestre
Editora Intrínseca - 240 páginas

"Eu riria, se pudesse. Mas os remédios me deixam num lugar entre o riso e o choro. Não. Me deixam em um lugar em que não há riso nem choro. É neste lugar que estou vivendo. Ainda." (página 129)

Paulo, o garoto de 12 anos do livro "Se eu fechar os olhos agora", reaparece aqui 9 anos depois, em 1970 como estudante de pedagogia. Ele é preso por engano, torturado e humilhado, mas "alguém" importante impede que seja morto e o manda para o exílio. Paulo, então, vai para o Chile, depois para Suécia e França.

"Este é o grande poder dos torturadores. A dor não passa. O domínio deles continua." (pág.56)

No pararelo, temos também a história de Barbara, que em 1991 parte para os Estados Unidos, fugindo dos problemas da vida. Lá, a realidade é dura, especialmente para quem vive de forma ilegal e possui uma identidade argentina falsa. Consegue um trabalho de faxineira.

Apesar de ser reservada e não se expor, ela conhece histórias de outros brasileiros. Um deles é Sílvio. Foi para o exterior ainda jovem, fez a vida como garoto de programa e agora padece com a Aids. Mesmo doente, ele se mostra alegre, irreverente e incentivador sempre que conversa com Barbara.

Paulo tenta reescrever sua história com Anna, sua namorada sueca. Barbara pensou que ia reescrevê-la com Luis Claudio, namorado brasileiro que a acolhe nos EUA. Nesse processo, ambos são obrigados a viverem vidas provisórias, vidas que não escolheram, mas que nem por isso devem ser desperdiçadas.

Boa leitura!

terça-feira, 7 de junho de 2016

A confissão da leoa

Mia Couto
Companhia das Letras - 254 páginas

"Como há espaço, dentro de nós, para enterrarmos as nossas pequenas mortes!" (página 38)

Há 5 anos li meu primeiro Mia (O outro pé da sereia) e fiquei encantada com o estilo desse autor moçambicano.

Conforme já falei em resenhas anteriores, é difícil resumir em palavras todos os sentimentos que os livros dele produz. Então, vamos à trama!

A aldeia de Kulumani se vê numa situação inusitada: o ataque de leões. Então, o adminstrador local (Florindo Makwala) decide chamar um caçador profissional: Arcanjo Baleiro. O caçador vai para a aldeia junto com um escritor, que irá registrar cada passo da empreitada.

Na aldeia mora a família de Genito Mpepe: a esposa Hanifa Assulua e a filha Mariamar. A família já foi maior, com outras 3 filhas, todas mortas. As gêmeas morreram afogadas e Silência, a filha mais velha, foi a última vítima do leão.

Os capítulos do livro intercalam trechos do diário do caçador e da visão de Mariamar. Passamos a conhecer os fatos da aldeia sob as duas óticas, uma completando a outra.

Ler Mia é abrir caminho para que o sonho, a fantasia e os fantasmas internos se aflorem. Nem sempre é fácil.

"...tristeza não é chorar. Tristeza é não ter para quem chorar." (pág. 56)

Boa leitura!