sábado, 17 de fevereiro de 2018

Mulheres de Cinzas: as areias do imperador - vol 1

Mia Couto
Companhia das Letras - 344 páginas

"Mas a Paz é uma sombra em chão de miséria; basta o acontecer do Tempo para que desapareça." (página 21)

Emendei um Mia no outro: há 1 mês li Cada homem é uma raça e agora devorei o volume 1 da trilogia "As areias do imperador".

Aqui temos os conflitos raciais e culturais entre portugueses e africanos, no vilarejo de Nkokolani, que vivia amedrontado pela constante ameaça de Ngungunyane, o temido líder e imperador do sul de Moçambique.

Em fins do século XIX, o sargento português Germano de Melo foi enviado a este vilarejo para evitar a expansão dos domínios de Ngungunyane. Tão logo ele chega, conhece a jovem Imani, de apenas quinze anos, que será sua intérprete nesse novo mundo. Ela mora com os pais e tem 2 irmãos: Dubula se aliou ao inimigo e Mwanatu - o tonto e atrasado - aos portugueses. 

Os capítulos são intercalados: ora temos os relatos de Imani, ora lemos as cartas que Germano escreve para o Conselheiro José d´Almeida, em Portugal, relatando suas dificuldades, dúvidas e temores.

Conflitos na família (entre tio e pai, entre irmãos, entre marido e mulher) dão o tom da trama, a qual é permeada pelo medo dos invasores e os mistérios e encantos da natureza.


As guerras e as perdas desumanizam a todos que são atingidos e deixam sempre algum tipo de marca. Seja na pessoa, seja na terra onde vivem.

"É para isso que servem as fardas: para afastar o soldado da sua humanidade." (pág.20)

"...bebíamos para fugir de um lugar. E tornávamo-nos bêbados porque não sabíamos fugir de nós mesmos." (pág.42)

"...as guerras nunca começam. Quando damos por elas, já havia muito que vinham acontecendo." (pág.142)

"... não são os mortos que pesam. São os que não param nunca de morrer." (pág.283)

Como sempre, vale a pena ler Mia Couto.
Boa leitura!

Obs: leia também as resenhas que escrevi para outras obras desse grande autor moçambicano: Terra SonâmbulaAntes de nascer o mundoA varanda do frangipaniO outro pé da sereia,Um rio chamado tempo, uma casa chamada terraO último voo do flamingo